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Voltas de súbito. Partes do nada. Faze-lo vezes sem conta, até ao dia que partes de vez. Mas não, tu acabas sempre por voltar. Como um vagabundo, que quando dá conta, volta a estar ás portas de casa. Assim és tu. Habituaste-te ao meu conforto, e à minha maneira de ver o mundo. Habituaste-te ao meu cheiro, e ao cheiro da casa que um dia teve o nome de nossa. Tu voltas sempre pensado em dar apenas uma espreitadela.
Talvez seja esse o verdadeiro problema. Tu não podes apenas dar a espreitadela. Pensas que podes espreitar a tua antiga vida sem lhe tocar, pensas que não interferes. Mas eu sinto-te. Sinto-te sempre. É como se tentasses remover uma ligadura para ver se a ferida já estava sarada. Mas na verdade a ferida ainda não sarou, e agora é tempo de a sangrar. E agora, quando te aproximas, é como se me atirasses sal para a ferida que tu próprio crias-te.
Já não te olho com olhos se apaixonada, hoje vejo-te com olhos de ver. Vejo-te como és, e não como eu te idealizei. Vejo-te no que te tornas-te e, consequentemente vejo o teu verdadeiro eu. O teu eu crescido e maduro.
Talvez ainda tenha sulcos no coração. Talvez ele ainda tenha ligaduras em volta dele, feridas que necessitem de ser expostas ao ar. Talvez possam sarar mais depressa. E hoje é o dia de remover todas as ligaduras existentes.
Saís-te de casa, com um estrondo atrás de ti. E no entanto, ainda consigo encontrar mil e uma razões para gostar de ti. No entanto ainda basta uma. Apresentei-te ao meu mundo, contei-te todos os meus sonhos e tu quiseste fazer parte deles.
Quando estava em baixo sorrias-me. Quando não era nada, fizes-te-me um tudo.
Mas continuo sem saber de onde te amei. Talvez do mais carinhoso gesto e das mais doces palavras? Fizes-te o que nunca alguém se atreveu a fazer, deste um passo em frente prometendo nunca me magoar, e dando-me a mão e pedis-te-me para te integrar no meu mundo.
E desapareces-te. Deixas-te não apenas os meus sonhos, mas sim todos os nossos sonhos. Deixas-te o nosso mundo e fugis-te. Fugis-te por não estares preparado. Fugiste por medo.
É o que dói mais. É saber que alguém que por medo nos fechou o coração. O som é igual ao de mil portas a fecharem, de mil tambores em fúria. E quando penso nisso, ainda sinto o coração a despedaçar-se.
Já não levo a mão ao coração como presente, porque tu já não o queres. Quando o teu coração se fechou, deixou de ser meu.
Mas ainda assim, apesar das mentiras, das desilusões, das promessas nunca cumpridas e dos sonhos nunca realizados, eu acreditei...ainda tenho a sensação que te vejo, mas agora são poucas as vezes em que acredito num nosso final feliz.
Mas também já não importa, tu não desfizes-te só as tuas promessas, mas também toda a nossa história.

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