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Preciso de me despedir de ti. Preciso que o teu fantasma saia da porta do quarto e me dê a passagem. Estou cansada de chorar desde à tanto tempo. Já te tentei gritar, mas tu não ouvis-te. Quando te toquei no coração, tu não sentis-te. Já tentei travar as lágrimas e teimar que o sono me viesse. Tive soluços e insónias como resposta. Desculpa, mas eu ainda preciso que me olhes como um todo. Não me vejas aos pedaços. Preciso que vejas que preciso de ti. Preciso que me segures entre os teus braços durante o sono, preciso que me impeças a queda. Preciso que me levantes, quando já não fores a tempo. É estúpido. Tudo o que sinto em relação a ti é estúpido. Tu próprio és estúpido, sabes? Lembras-te quando andámos à chuva durante horas? E devagar, me partiste de novo o coração. Tu eras o mais forte, e eu a míuda frágil. Tu eras o príncipe, e eu era a que contracenava contigo. Mas perdi a cena, e não sei porquê. É o que me intriga. Eu não cheguei nem atrasada nem adiantada. Não mudei a minha personagem, e sempre me manti fiel. Não comi maçãs envenenadas nem piquei o dedo num fuso qualquer. Tu largas-te o guião, dizendo que não me podias magoar. Fugis-te do nosso castelo. Aquele que construímos juntos. Aquele, a quem eu dizia que era um lugar de sonhos e de amor. Agora são apenas ruínas. Deixaste-me fraca. Fraca e solta por aí. Pedaços de nós, dispersos por todo o lado. Por este mesmo castelo. Não. Por esta mesma masmorra. Tudo a ti te diz respeito, e é isso que ainda me prende. É isto que não me deixa ir. Ir e encontrar um novo castelo. Tenho o teu fantasma, com a tua voz, com a tua cara e o teu charme a chamar por mim todas as noites. A seguir-me o pensamento todo o dia. A teimar em aparecer em todo o instante e em todo o lugar. E este castelo / masmorra, tem tudo o que dediquei a ti: os vidros ainda contêm os fantasmas do teu nome escritos com a ponta dos meus dedos quando ficavam embaciados. O quarto está escuro e sombrio, mas o teu cheiro ainda lá permanece. Os copos e os pratos, continuam postos na mesa prontos a serem servidos, como tu sempre gostaste. E a história, a nossa história, o nosso guião continua na tua secretária. As estantes permanecem as mesmas: poeirentas e carregadas de histórias com finais felizes. Tal como aquele que pensámos para nós. Escrevi o meu próprio guião, mais amargurado talvez. Mais realistas porque tudo não passa de um catálogo: a praia tem vento, o mar tem ondas que rebentam com demasiada força, e as famílias não são sempre felizes. Então, um castelo não tem de ser sempre uma casa de sonhos e amor. Não tem rosas a brotarem a toda a hora, nem os príncipes tem cavalos brancos. Mas ando frágil e agarrada a um amor impossível. Não é que acredite neles, mas tu tornas tudo mais difícil.



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