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Hoje choveu. Choveu tanto, e eu estava sozinha. Senti cada pingo, como quem sente facadas. Sentios juntamente com cada uma das tuas palavras. Uma por uma, ao som da tua voz cortante e sem timbre. Estavas tão vazio quanto eu. Revivi a nossa história no meio da estrada, com todas as gotas a fustigarem-me o corpo.
Acabas por ser um forasteiro sem rumo. Preferis-te rasgar o nosso mapa, desacertando o compasso dos nossos corações, deixando que eles batessem para o mesmo rumo com o mesmo fim.
Tu o forasteiro e eu a estranha que acaba por seguir desvios, já que mudas-te o rumo. Eu acabo sempre por ser aquela que vive a vida paralela ás tuas decisões. Mais uma vez o padrão não se altera. Tu decidiste criar um novo trilho, seguis-te por ele largando-me a mão como quem larga o mais insignificante objecto, deixaste-me sozinha, à chuva, frágil e de coração partido.
Hoje encontro-me nesse mesmo trilho, à espera que voltes a entrelaçar a tua mão na minha, dizendo que está tudo bem. Não voltas, tu nunca voltas, e foste tu mesmo que o disses-te. Tu jamais voltas a recuar.
Hoje sei tudo sobre ti. Mesmo quando estás calado, eu sei o que me queres dizer. Pelo menos, sei o essencial. Sei que estás desprotegido, que estás à chuva neste preciso momento.
Engraçado não é? Rasgaste-me o mapa, tives-te o cuidado de fazer os possíveis para não te seguir, apagas-te todas as tuas pegadas e, mesmo assim não foi suficiente. Eu consegui superar todos os teus obstáculos. Superei-os mas nunca te alcancei, aceleras-te o passo, e a chuva fustigava-me o suficiente para me fazer parár por dias.
Travei demasiadas batalhas por ti, enfrentei tempestades sem fim, ultrapassei as mais altas muralhas que me impunhas, tudo isto para nada. Tu nunca viste. Nunca olhas para trás, não é?
Continua a chover. E hoje o dia está vagaroso a passar. Os minutos parecem horas. Quero que seja noite. Nessa altura já não tenho de fingir que não me afectas. À noite sou só eu e os meus sentimentos. Agora ainda não. Agora sou eu e a mascára.
Queria dizer-te que ainda há coisas que só tu sabes, que só tu percebes, mas já não. Deixámos de ser um nós, agora somos um tu e um eu separados por forças maiores. E agora quem sabe sou eu, quem percebe sou eu, sou eu que sinto. Sem ti, sinto tudo isto sem ti.
Tu foste embora, seguis-te a tua encruzilhada sozinho, sem mim, despedis-te com um 'adeus' melancólico e sem força, enquanto eu esperava por um 'até um dia'. Preferia-o vezes sem conta, mesmo que esse dia demorasse anos a chegar. Teria sido melhor que o teu adeus frio e cortante.
Sei que por muito que tentes nunca será definitivo, um adeus teu para mim será sempre um 'até breve', só ainda não sei o onde, o quando e o porquê de te voltar a ver.
Hoje queria dizer-te que não acredito em nada: nem no sol nem na escuridão; na terra nem nas estrelas; nem na verdade nem na mentira; mas não posso, o bater dos nossos corações ainda é ensurdecedor o suficiente para me fazer acreditar, (ainda) acredito na verdade que nós fomos.


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